São João da Boa Vista atingiu o status de cidade com epidemia de dengue após registros de mais de 300 casos da doença. Diante do momento crítico, o prefeito Vanderlei Borges de Carvalho decretou estado de emergência em saúde pública, no prazo de 180 dias, para que ações necessárias de combate ao mosquito Aedes aegypti sejam executadas.
Até esta sexta-feira, 28 de fevereiro, conforme dados do Departamento Municipal de Saúde, 730 pessoas tinham sido notificadas, totalizando 302 casos positivos — sendo 282 contraídos em São João e 20 importados. Outros 293 pacientes aguardam por resultados.
Na iminência da epidemia, o prefeito Vanderlei já havia reunido diretores municipais e profissionais do Setor de Vigilância Epidemiológica e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para a definir estratégias mais rigorosas.
Uma das ações envolve a aplicação de multas para locais em que forem encontradas larvas do mosquito Aedes aegypti. A penalização é uma forma de fazer com que donos de imóveis, locatários ou responsáveis mantenham suas áreas (edificadas ou não) devidamente limpas.
Desta forma, moradores que impedirem a entrada de Agentes de Vigilância Ambiental e Agentes Comunitários de Saúde para a execução de serviços de inspeção, verificação, orientação e aplicação de inseticida também poderão ser autuados e posteriormente multados.
A medida está em conformidade com a Lei 3.798, de 26 de fevereiro de 2015, que foi elaborada pelo Poder Executivo Municipal e aprovada na Câmara de Vereadores.
Ainda que o trabalho preventivo organizado pelo CCZ, com a presença de agentes nas ruas para a eliminação de criadouros do mosquito transmissor da dengue, chikungunya, febre amarela e zika vírus, aconteça durante o ano todo em São João, o aedes tem se proliferado de maneira preocupante.
Mutirões para a retirada de objetos que possam acumular água devem ser realizados nos próximos dias, de acordo com Setor de Vigilância Ambiental.
Novo vírus
Segundo a enfermeira Ludimila Borato Barros Zan, chefe do Setor de Vigilância Epidemiológica, no Brasil circulam 4 tipos de vírus: Denv-1, Denv-2, Denv-3 e Denv-4.
Este ano, a dengue tipo 2 tem sido a principal preocupação das autoridades sanjoanenses de saúde, em razão da agressividade do vírus.
“Ao ser infectado, o paciente obtém imunidade contra o sorotipo pelo qual foi infectado, mas permanece suscetível aos demais. As complicações ocorrem, geralmente, quando a pessoa é exposta a um segundo sorotipo do vírus, o que pode levar à dengue severa, anteriormente chamada de dengue hemorrágica ou dengue com complicações. Apesar de os sorotipos 2 e 3 serem considerados os mais agressivos, qualquer reinfecção por dengue pode acarretar um quadro mais grave”, explica Ludimila.
O fato de São João ser um polo regional também contribui para o aumento de casos, por causa da quantidade de trabalhadores, estudantes e pacientes que vem de outros municípios, que se encontram em situação de epidemia.
“Com a simples entrada de uma pessoa com dengue em nossa cidade, se o mosquito pica a pessoa doente ele se torna transmissor da doença. O inverso também ocorre quando um munícipe de São João visita outras cidades com casos de dengue e volta contaminado”, explica a enfermeira.
Lei Municipal
A Lei Municipal 3.798 é uma forma mais rigorosa de fazer com que a população de São João colabore. Em caso de desobediência, os infratores autuados serão multados e terão um prazo máximo de 10 dias para regularizar a situação.
Persistindo a irregularidade, a multa poderá ser aplicada em dobro. Em se tratando de estabelecimentos comerciais, além de multas e apreensão de materiais, o proprietário poderá ter a licença de funcionamento cancelada e o prédio interditado para atividades.
Os valores de multas estipulados por lei, com aplicação realizada por fiscais da Prefeitura, dependem da classificação do grau de risco.
A última epidemia de dengue registrada em São João ocorreu em 2015, quando mais de 5 mil pessoas foram diagnosticadas com o tipo 1 da doença. Este ano, com o vírus 2 circulando, a população toda a população fica suscetível.
“[Com isso] as pessoas que já tiveram dengue poderão contrair a doença pela segunda vez, o que por si só aumenta o risco de complicações. Por se tratar de um sorotipo mais agressivo, a chance até mesmo de óbito é maior”, afirma Ludimila.
A atenção deve ser maior com todos os suspeitos, principalmente com os idosos, gestantes e pessoas com doenças crônicas.