Os impactos econômicos da pandemia de Covid-19 atingiram em cheio as mulheres empreendedoras brasileiras. Dados de um levantamento do Sebrae mostram que a crise interrompeu um movimento consistente, verificado desde 2016, de crescimento na representatividade das mulheres no universo do empreendedorismo no país. No terceiro trimestre do ano passado, a proporção de mulheres entre os donos de negócio caiu quase um ponto percentual em comparação com o mesmo período de 2019.
No 3º trimestre de 2020 havia, segundo o Sebrae, cerca de 25,6 milhões de donos de negócio no Brasil. Desse universo, aproximadamente de 8,6 milhões eram mulheres (33,6%) e 17 milhões, homens (66,4%). Em 2019, a presença feminina correspondia a 34,5% do total de empreendedores (o que representou uma perda de 1,3 milhão de mulheres à frente de um negócio).
Para a coordenadora do Projeto Sebrae Delas, Renata Malheiros, a ruptura dessa crescente participação das mulheres no empreendedorismo está diretamente ligada a traços da nossa cultura que ainda persistem no país e que acaba por responsabilizar as mulheres pela maior parte das tarefas domésticas.
“De acordo com um estudo feito pelo IBGE, em 2019 as mulheres dedicaram 10,4 horas por semana a mais que os homens aos afazeres da casa. Com a pandemia, essa situação foi agravada. As crianças permaneceram mais tempo em casa ao longo de 2020 e os idosos exigiram mais cuidados por parte da família. Essas tarefas, além daquelas que já eram depositadas nos ombros das mulheres, comprometeram a dedicação das empresárias ou potenciais empreendedoras”, comenta Renata.
“O dia só tem 24 horas pra todo mundo, homens e mulheres. Como elas vão se dedicar aos negócios se estão sobrecarregadas com as tarefas domésticas? Todo mundo na família se beneficia de uma comida bem feita e da casa limpa. Por motivos culturais isso recai desproporcionalmente sobre a mulher. Mas cultura a gente muda com diálogo e exemplo”. Mais prejudicadas, porém, mais inovadoras .O presidente do Sebrae, Carlos Melles, comenta que esses dados levantados pelo Sebrae coincidem com os resultados apresentados em outra pesquisa feita pela instituição, em parceria com a FGV, em novembro do ano passado.
“A 9ª Pesquisa de Impacto do coronavírus nos pequenos negócios já indicava que as mulheres empreendedoras foram mais prejudicadas do que os homens no que diz respeito ao faturamento mensal (75% delas acusaram diminuição contra 71% dos homens)”, ressalta Melles. Isso aconteceu, segundo o presidente do Sebrae, apesar das empreendedoras terem sido mais proativas do que os homens no lançamento de novos produtos (46% delas passaram a comercializar novos produtos/serviços, contra 41% dos empresários).
“As mulheres também se mostraram mais tecnológicas do que os homens (76% delas fazem uso das redes sociais, aplicativos ou internet na venda de seus produtos/serviços, enquanto 67% dos homens utilizam esses canais)”, acrescenta.
Outros dados sobre o empreendedorismo feminino
• Os homens estão mais endividados do que as mulheres: 38% deles têm dívidas/empréstimos, mas estão em dia, contra 34% delas. Já as mulheres são mais cautelosas em relação a contrair dívidas: 35% delas disseram que não possuem dívidas contra 30% dos homens.
• A maior parte dos homens tem empréstimos bancários (46%) em relação às mulheres (43%). As dívidas com impostos/taxas também foram citadas por 16% dos homens e 13% das mulheres.
• A maior parte das mulheres (51%) disse que não buscou empréstimo bancário para a sua empresa desde o começo da crise, enquanto 54% dos homens buscaram.
Fonte: Sebrae
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