Com mais de 120 anos de história, a tradicional Festa de São Benedito de Poços de Caldas acaba de receber um reconhecimento inédito e especial: ser premiada em 1º lugar em Minas Gerais na categoria Festejos Populares, do Edital Raízes de Minas, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo, reafirmando sua relevância cultural para a cultura mineira. Como forma de premiação, a Associação de Ternos de Congos e Caiapós de Poços de Caldas foi contemplada com R$ 50 mil, por meio de recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB).
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Realizada anualmente entre os dias 1º e 13 de maio, a Festa de São Benedito reúne expressões culturais como os Ternos de Congos e os Grupos de Caiapós, que, ao som de tambores, danças e rituais, mantêm viva a tradição, a memória, a resistência e a fé, desempenhando um papel fundamental na preservação da história e da identidade local.
Reconhecida como Bem Imaterial de Poços de Caldas desde 2020 e de Relevante Interesse Cultural do Estado desde 2022, a festa tem origens nas homenagens de pessoas escravizadas ao coronel Agostinho Junqueira, cujo aniversário – 13 de maio – passou a ser o marco de encerramento da celebração. Mas foi em 1904, após a chegada de Tio Herculano, um ex-escravizado, que a devoção ao Santo Negro ganhou força, dando início ao que se tornaria um dos mais antigos e emblemáticos festejos populares de Minas Gerais e um dos principais símbolos da resistência afro-mineira.
A programação da Festa de São Benedito é marcada por manifestações como o Dia de Santa Cruz, com a bênção e o hasteamento dos mastros; a emocionante Retirada dos Caiapós do Mato, encenação que simboliza o encontro entre negros e indígenas; e a tradicional Procissão de São Benedito, momento de fé coletiva e afirmação identitária.
Mais do que uma atração cultural, os Ternos de Congos e os Grupos de Caiapós são os verdadeiros pilares da Festa de São Benedito. Seus integrantes – sendo muitos deles herdeiros diretos dos primeiros mestres da tradição – são responsáveis por transmitir oralmente os saberes, organizar os ritos e manter vivos os significados culturais e religiosos da celebração. São homens, mulheres e crianças que, ano após ano, dedicam tempo, esforço e devoção para manter essa herança de pé. Um trabalho muitas vezes invisível e que agora ganha visibilidade e reconhecimento, como importante patrimônio cultural do Estado.
Nos últimos anos, diversas iniciativas têm reforçado o papel da festa na construção da identidade cultural de Poços de Caldas e de Minas Gerais, como a produção de documentários, a participação em eventos nacionais como a WTM Latin America em São Paulo e o recente lançamento do álbum musical “Ritmos de São Benedito”.
A proposta premiada foi enviada por representantes da Associação dos Ternos de Congos e Caiapós, incluindo Eduarda Aparecida Domingos Carimba, Benedito Luiz da Costa (Seu Ditinho), Maria Lucia Ramos, Ailton Santana (Mestre Bucha) e Lilia Regina Clementino, com produção e gestão de Juliano Silva e Chiara Carvalho.
“Com esta conquista, a Festa de São Benedito se firma ainda mais como símbolo da afromineiridade, da resistência e da devoção popular. A premiação reconhece não só a importância histórica do festejo, mas também os esforços contínuos de preservação, transmissão de saberes e valorização da cultura popular de Poços de Caldas”, declara Eduarda Aparecida Domingos Carimba, presidente da Associação de Ternos de Congos e Caiapós.