Entre os dias 17 e 27 de julho de 2025, a artista visual Julyane Machado, conhecida como Bjuá Masofie, apresenta a exposição “Retratos Invisíveis – Memórias do Silêncio” na Biblioteca Municipal Centenário (Espaço Cultural da Urca), como parte da programação oficial do Festival de Inverno de Poços de Caldas. A abertura acontece nesta quinta-feira, 17 de julho, das 18h às 21h, e foi pensada como um momento de encontro sensível: o público será convidado a percorrer o espaço com os próprios sentidos, em silêncio, no próprio tempo, e a deixar suas marcas, palavras e memórias em panos com giz disponíveis. Será mais do que uma visita — uma escuta ativa.
A mostra nasce como desdobramento direto da exposição anterior dedicada à memória de Laudelina de Campos Melo, mulher negra, trabalhadora doméstica e pioneira da luta política da categoria no Brasil — nascida em Poços, mas tantas vezes esquecida por sua cidade.
Durante o processo de pesquisa e criação em torno de Laudelina, algo pulsou mais fundo: a memória da avó da artista — mulher negra, que viveu o trabalho doméstico como destino, mas carregava em si alegria, sabedoria e força. Foi ela quem, mesmo sem saber, plantou as primeiras sementes dessa exposição. Com um pano de prato nas mãos e uma canção do Agepê nos lábios, ela ensinou o valor do simples e da resistência cotidiana.
“A exposição não nasceu só da pesquisa, nasceu da vida. Da vida que vi minha avó levar com dignidade, mesmo quando o mundo a quis invisível. Foi nela que encontrei a semente. Foi em Laudelina que reconheci a luta. E é por todas as mulheres que sustentam o cotidiano deste país, em silêncio e com força, que escolhi pintar. Porque memória também é política. E cada ausência aqui é um chamado à presença.” — afirma Bjuá Masofie.
Uma travessia entre o mar, a casa e o gesto
A exposição propõe uma experiência sensorial e reflexiva. Dividida em núcleos temáticos, começa simbolicamente no Atlântico — território da diáspora, do silêncio forçado, da ruptura. Ao longo do percurso, o trabalho doméstico é ressignificado: o pano de chão vira suporte artístico; o gesto de limpar, um ato de criação. As figuras femininas são representadas em ação — lavando, cuidando, servindo — mas seus rostos estão ausentes. A ausência não é falha: é escolha. É denúncia. É crítica à invisibilidade social que atravessa gerações de mulheres negras no Brasil.
Pintadas sobre algodão cru com giz oleoso, as obras exigem do corpo da artista o mesmo esforço braçal exigido no ato de servir. O atrito entre o material e a superfície reverbera as cicatrizes históricas deixadas pelo trabalho precarizado e não reconhecido como ofício ou cultura.
Abertura como ritual de escuta e presença
No dia 17 de julho, das 18h às 21h, acontece a abertura da exposição — pensada como um momento de encontro sensível e ritual de escuta. O espaço será preparado para que cada visitante possa percorrer a mostra com atenção plena, no próprio tempo, com todos os sentidos. Não haverá mediação guiada. Ao invés disso, o convite é à vivência íntima, introspectiva e corporal. Para quem desejar participar ativamente, mesas com panos e giz estarão disponíveis — um gesto de devolução, um espaço para deixar também suas marcas, palavras, silêncios.
Mais do que uma exposição, uma provocação
“Retratos Invisíveis – Memórias do Silêncio” transforma a ausência em matéria e costura o apagamento com memória viva. Ao reunir arte, afeto e denúncia, a exposição propõe deslocar o olhar, tensionar estruturas e afirmar que as mãos que serviram também produzem história, beleza e cultura.
Essa mostra é uma homenagem às mulheres que sustentaram o cotidiano deste país — muitas vezes sem nome, sem rosto, mas nunca sem importância.
A exposição “Retratos Invisíveis – Memórias do Silêncio” no Festival de Inverno é uma realização da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas / Secretaria Municipal de Cultura, além de contar com o apoio da Carvalho Agência Cultural.
Para saber mais acompanhe as redes sociais da artista @bjua.masofie.