Uma sonoridade que mergulha em origens e essência para transpor por completo as ideias pré-concebidas em relação a um dos mais populares gêneros da música brasileira: Esta é a proposta de ‘Forró Transregional’, primeiro disco apenas de canções do compositor e multi-instrumentista, Ravi Kefi. O álbum, que desde a primeira faixa demonstra fugir por completo do lugar comum, integra as plataformas de streaming musicais. São 12 faixas que se lançam a uma leitura extremamente ousada, mesclando à tradicional instrumentação forrozeira, elementos do erudito contemporâneo e do rock progressivo.
Segundo o compositor, o conceito se dá a partir da ideia da transregionalização.
“Transregional é toda arte que, quanto mais se aprofunda em suas origens, mais universal se torna. Uma arte em que a sofisticação brota das raízes. ‘Forró Transregional’ é um álbum que quer ampliar os caminhos do forró, aliando-se às forças criativas populares impulsionadas pela arte de Gonzaga e Valença, de Ramalho e Dominguinhos”, disse Kefi, que faz de tudo um pouco no disco.
Além de cantar, tocar piano, sanfona e violão é ele quem assina todos os arranjos e composições do trabalho, com exceção de “Até que pare o xote”, uma parceria com Egberto Gismonti, multi-instrumentista de fama internacional.
Com arranjos que buscam a complexidade da melhor música instrumental e letras que miram a excelência da MPB, o disco evidencia o casamento entre o simples e o complexo, o espontâneo e o elaborado, para elevar o forró contemporâneo ao nível de seus melhores dias.
“Bem, é forró: tem zabumba, triângulo, sanfona e aqueles ritmos e melodias típicas da música nordestina. Dá pra dançar, cantar junto e ser feliz. Mas, a partir dessa base, a música estabelece conexões inesperadas com universos aparentemente distantes”, conta o compositor.
Kefi possui mestrado em Composição pela USP e é doutorando no programa interdisciplinar da UFSC, pesquisando a MPB. Vencedor do Prêmio BDMG de Música Instrumental, além de finalista em outras duas edições, foi também premiado no Festival de Música de Londrina e no Prêmio Nabor Pires de Camargo. Sua obra como arranjador assina trabalhos como o disco “A Força do Boi”, com o internacionalmente reconhecido violeiro Ivan Vilela, além da execução de arranjos por importantes orquestras brasileiras, como a Orquestra de Câmara da USP e trabalhos para grupos musicais de prestígio, como o Quarteto da Cidade de São Paulo.
De versatilidade e assinatura sonora singular, o inusitado no disco se estende também às letras, que revelam uma poesia apurada ou, como retrata a canção Sete Flores: “deliberada, meticulosa, aleatória, consagrada, insinuante/ intransigente, capciosa, ensandecida, inusitada, repentina/ adamantina, destrambelhada, incontestada, transcendente, gloriosa/ impiedosa, desgovernada, indecorosa, habilitada, absoluta”.
Os adjetivos instigam, mas realmente dão o tom do trabalho que, para os sedentos pela música “fora da caixinha”, pode surpreender no mais harmonioso encontro entre tradição e contemporaneidade.
O trabalho de Ravi pode ser conferido neste link.
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