“O pole dance é para todas”. Assim define Luiza Senra, profissional da área há quase uma década e que entre os dias 05 e 07 de agosto compete no Festival Mineiro Pole Dance em Belo Horizonte (MG) ao lado da também professora Carol Gianelli, que trabalham no Gira Pole em Poços de Caldas (MG) e há pouco mais de dois anos recebem cerca de 160 mulheres, por mês, para dançar.
Pole Dance é um modalidade artística que surgiu no Brasil nas últimas duas décadas e que é desempenhado sobretudo por mulheres e pessoas relacionadas à comunidade LGBTQIA+. A dança é feita com o uso de uma barra (pole) e com fortes influências do circo, teatro e de danças sensuais e marginalizadas.
No festival em Belo Horizonte, para o qual as dançarinas foram selecionadas, Lu Senra vai se apresentar na categoria experimental e Carol Gianelli se apresenta na categoria flow rasteiro.
“Estamos montando o número que vamos apresentar. Trata-se de um festival grande na cena e que privilegia a parte artística. Estamos felizes por termos sido selecionadas”, contou.
Lu explica que busca, com a escola de dança, criar um ambiente acolhedor para diferentes mulheres a partir do pole dance e da quebra de estereótipos. “Queremos normalizar a sensualidade e não colocar como algo nefasto, queremos mostrar que a partir da dança, não tem problema alguma mulher se sentir sensual e gostosa.
Para isso, ela afirma que além da larga experiência no ramo, investe em formação e numa equipe de profissionais capacitadas. “Nós queremos que as mulheres que frequentam nosso espaço recebam um trabalho de qualidade, mas não só. Queremos que ele seja muito personalizado. E quem vai lá é sempre muito acolhida e cuidada em suas individualidades”, diz.
Os benefícios do pole dance
No mercado do Pole Dance desde 2013, Lu recebe diferentes tipos de mulheres na escola que é exclusivamente dedicada ao gênero. “A ideia foi fazer um espaço exclusivo, para facilitar na gestão e no atendimento e têm dado certo. As nossas alunas sentem que o Gira Pole é um refúgio, um espaço só delas e é, já que tudo foi pensado para elas”, conta.
E emenda sobre os benefícios do pole dance enquanto atividade física regular, que trabalha todos os músculos do corpo e é indicada a todas as pessoas, de qualquer faixa-etária ou com qualquer tipo físico: “é uma dança que traz, claramente, muitos benefícios físicos como força, flexibilidade, coordenação motora e equilíbrio mas, no final das contas, observamos também os benefícios subjetivos, como a descontrução de ideais e a forma que as mulheres aprendem a lidar com a frustração, a aprimorar a paciência, a socializar o espaço, trabalhar a auto-estima, o empoderamento, o autoconhecimento e a sensualidade”, acresenta.
O esporte para além da idade
Quem confirma é a professora de educação física Maria de Fátima Rodrigues Ponso, de 50 anos. Ela esperou uma vaga para fazer uma aula experimental após ver uma amiga postar fotos na escola e desde outubro do ano passado, não abre mão do esporte que a conquistou.
“Eu confesso que embora seja professora de educação física, sou um pouco preguiçosa para manter minhas atividades, tudo que eu começava, eu parava e neste caso, eu já saí da aula experimental matriculada”, confessa.
Desde então, Fátima não se arrepende: “as meninas são muito acolhedoras, celebram quando a gente acerta um movimento, sem falar que é um esporte que trabalha muito a sensualidade e a força. Eu percebi a diferença bem rápido, porque com o passar do tempo, com a idade, vamos perdendo tônus muscular, equilíbrio, consciência corporal e em um mês eu já senti a diferença. Foi surpreendente a resposta do exercício pro que eu procurava”, diz.
Pole dance para todos os corpos
A professora Ravena Carvalho, de 29 anos, é uma mulher gorda e conta que sempre teve uma relação ruim com qualquer atividade física e que tudo que fez era com a ideia de emagrecer, até conhecer o pole dance em meio a uma crise de ansiedade e depressão, depois de tentar pedalar e fazer yoga.
“Eu já acompanhava a página da escola há algum tempo e achava incrível. Lá, conheci a Dani, uma pessoa gorda também. Ela me inspirou, me deu vontade e me trouxe o pensamento de ‘eu também vou conseguir’”, relatou,
Mas, mas a primeira aula que marcou, Ravena se sabotou e não foi por achar que não daria conta. Foi somente na segunda aula que, mesmo tímida e desconfortável ao ver que o próprio corpo era ‘diferente’ dos que estavam dividindo a aula é que ela conseguiu curtir e aderir ao Pole Dance.
“Em poucos minutos eu percebi que ninguém lá se importava com isso. Que naquele lugar parecia que todos estavam despidos (literalmente). E os medos e inseguranças se evidenciavam em ficar de ponta cabeça e não em mostrar uma celulite ou estria. E eu nunca mais consegui deixar aquele lugar. Nunca mais consegui viver sem o pole”, conta.
Para ela, o pole mostrou o quanto o corpo é capaz, mas que este mesmo corpo exige paciência. “Dançar me mostrou o quanto a minha mente é importante, me trouxe paixão de novo. Me trouxe aconchego. E eu achei aquilo que eu sempre busquei: uma atividade física que me desse prazer”.
Para quem gostaria de tentar, Ravena deixa um recado: “Ouvi diversas vezes que o pole não era pra mim. Alguns diretamente outros em brincadeiras disfarçadas. O acolhimento que eu tenho lá dentro e as superações que eu tenho comigo me fazem continuar. Claro que nunca será a mesma coisa. Tive que aprender a olhar o meu processo e não me comparar. A lidar com as minhas frustrações. Mas tem sido uma experiência incrível”, pontua.
Sobre o festival
O Festival Mineiro Pole Dance está na 5ª edição e acontece entre os dias 05, 06 e 07 de agosto no Teatro da Cidade, em Belo Horizonte e recebe ao menos 70 artistas de todo Brasil.
Participam grandes nomes da modalidade e também artistas em início de carreira. As performances serão divididas em categorias, que se relacionam aos diversos estilos da modalidade: experimental, exotic, flow aéreo e flow rasteiro.
No mesmo final de semana, também ocorre a 2ª etapa do 1º Seminário Mineiro de Pole Dance. O evento oferece oficinas e debates gratuitos ligados ao universo do pole, dentre eles: empreendedorismo, mercado digital, técnicas de dança, gestão de negócios, cultura drag queer, gordofobia, performance, processo criativo e feminismo. Mais informações podem ser obtidas no site https://mineiropoledance.com.br/
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